É uma das premissas mais batidas do cinema: duas pessoas (geralmente pai e filho, às vezes marido e mulher) cansam de suas vidas ordinárias, reclamam que o outro leva uma vida mais fácil e... BUM! Um raio cai e os dois trocam de corpos. Alguém precisa checar se, no meio do calor de verão no deserto texano, uma trovoada não atingiu o AT&T Center, porque, nos minutos finais de um clássico jogo 2 no último domingo, Miami Heat e San Antonio Spurs trocaram de papéis, o que resultou numa vitória dos atuais bicampeões e na igualdade em 1 a 1 nas Finais da NBA.
San Antonio vinha obtendo sucesso contra Miami devido à sua excelente distribuição de bola, sempre buscando o passe extra até encontrar o buraco deixado pelas constantes trocas de marcação do Heat, enquanto os visitantes se mantinham no jogo graças a LeBron James, que pegava, chutava e acertava antes que seu marcador, andando para trás para evitar a infiltração, pudesse reagir ou chamar a dobra.

Nos últimos dois minutos, porém, isso se inverteu. Com James marcando Tony Parker, Manu Ginóbili passou a ser o armador de fato do Spurs, e a bola ficou estagnada no ataque do Spurs. As frequentes trocas e dobras do Heat em cima do homem com a bola sumiram, e o craque argentino não encontrou as mesmas aberturas que seu time vinha encontrando. Após aparentemente levar uma ‘mãozada’ acidental na cara, deu um passe muito forte para Tim Duncan no pick-n-roll que resultou num turnover ainda no começo da posse de bola. No ataque seguinte, em vez de continuar girando a bola para encontrar a melhor oportunidade, tentou um arremesso no stepback de meia-distância com nove segundos restando no relógio de posse, direto para fora. Quando o Spurs, enfim, voltou a movimentar a bola como é sua característica, restavam apenas nove segundos no jogo, e a cesta de três de Ginóbili no estouro do cronômetro de nada adiantou; ali, sim, eles precisavam ser mais apressados.
Do outro lado, Miami passou a buscar o passe extra e colheu os dividendos. O Spurs costuma aproveitar quando um jogador do perímetro do Heat vem para o garrafão cortar o caminho da infiltração e deixa um arremessador livre na linha de três; desta vez, Kawhi Leonard passou por baixo de um bloqueio e Tim Duncan fechou o garrafão para LeBron, deixando Chris Bosh sozinho no canto para receber o passe e encestar de três. Pouco depois, o mesmo Bosh recebeu a bola longe da linha de três, mas Duncan, preocupado com outra bola de longa distância, foi até o arco perseguir o ala-pivô. Mais ágil e percebendo o marcador muito ereto para se recuperar, Bosh driblou e avançou ao garrafão. Boris Diaw teve de deixar Dwyane Wade para fechar o garrafão, e o ala-pivô deu o passe extra para encontrar o camisa 3 sozinho para a bandeja.

Há muitos preconceitos sobre esta série, e um deles é que o Spurs é o time que joga coletivamente e Miami é um time de estrelas individuais. Há um pouco de verdade nessas afirmações, mas San Antonio também depende muito da criação de jogadas de Tony Parker, que faz muito de seu melhor trabalho em isolamento, batendo para dentro para fazer bandejas. A cotovelada gratuita dada por Chalmers no corpo de Parker no meio do quarto período afetou - e muito - o armador francês e o rendimento do Spurs no jogo (Chalmers deveria ser punido, talvez até suspenso). Quando Miami colocou LeBron em cima dele, o ataque do Spurs parou. Erik Spoelstra não pode deixar LeBron o jogo inteiro em cima de Parker, mas vai fazê-lo nos quartos períodos.
Por outro lado, LeBron, Wade e Bosh têm suas cotas de jogadas em ISO, mas o Heat usa muito a movimentação de bola para criar confrontos favoráveis para LeBron e Wade no garrafão e para encontrar Bosh, Ray Allen, Rashard Lewis e Mario Chalmers abertos na linha de três. Por isso, trocar a marcação ou dobrar em cima de LeBron é muito perigoso, e Gregg Popovich se recusou a fazê-lo mesmo quando o ala estava pegando fogo no terceiro período. O que espero de diferente de San Antonio na defesa no próximo jogo é talvez um pouco mais de respeito a James no perímetro, com o marcador encontrando-o quando passar do meio da quadra e passando por cima dos bloqueios, em vez de por baixo.

Dribles rápidos
- A tendência continua: Tiago Splitter começa o jogo, mas Boris Diaw ganha mais minutos em quadra e termina os jogos. Desta vez, não entendi. Splitter estava bem em quadra, e as duas melhores formações do Spurs no jogo o incluíam como pivô. Uma das principais qualidades de Diaw é o passe, e Splitter esteve tão bem quanto o francês nesse fundamento: ambos tiveram cinco assistências, sendo que o brasileiro o fez em 13 minutos a menos. Diaw tem um repertório ofensivo mais amplo que Splitter e costuma ajudar na marcação a LeBron, mas neste domingo, não fez bem nem um, nem outro: acertou apenas 33,3% dos arremessos, e na defesa…
- Ray Allen é considerado um ponto fraco na defesa do Heat, mas ele vem jogando muito bem desse lado da quadra também. Conseguiu dois roubos de bola no domingo – um deles em cima de Splitter - e não deu espaço para Ginóbili nos minutos finais. Seu Defensive Rating (pontos cedidos a cada 100 posses) no jogo 2 foi de 92,2, o melhor da partida, e uma grande razão pela qual Spoelstra lhe confiou 33 minutos. Espere vê-lo mais.

- Outro motivo para o equilíbrio nesta série tem sido Rashard Lewis, que contribui muito no ataque. Seu Offensive Rating (pontos marcados a cada 100 posses) no jogo 2 foi de 122,2, o maior da partida. Sua presença é um dos motivos para Popovich não manter Splitter e Duncan juntos - um deles precisa sair para marcá-lo. Mas Lewis precisa continuar acertando os chutes de longe, ou se tornará dispensável. Na defesa, ele está vendido quando Pop usa os dois pivôs.
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